As tempestades e sua segurança
Por que as chuvas em Barão Geraldo são tão violentas e como proceder?
Em Barão Geraldo suas águas podem ser de março, janeiro, fevereiro e abril. Essas águas não só “fecham o verão”, como aqui elas podem inclusive te fechar por horas dentro da sua casa, trabalho, departamento, veículo, esquina ou praça, enquanto carros estacionados em ladeiras são empurrados para trás pela força dos ventos e outros acabam naufragados em algum estacionamento.
Diante desse difícil cenário que se repete ao longo dos anos, tanto para moradores do distrito como para estudantes da região, neste artigo será abordado: alguns acontecimentos que possivelmente explicam as intensas consequências das chuvas em Barão Geraldo, recordação de alguns momentos de tensão provocados por essas enxurradas torrenciais e, desta vez, oferecer-se-á dicas de como proceder nessas ocasiões.
Durante o ano de 1995, além de o distrito de Barão Geraldo ter sido privado de energia elétrica por duas horas, janelas de bibliotecas e todo o telhado de 10 mil do ginásio da Unicamp foram destruídos pelos ventos de 180km/h, segundo relatou a Folha de São Paulo. Esse cenário se repetiu com menor intensidade entre os anos de 2001 e 2003, segundo alunos da instituição e, mais tarde, houve outros eventos similares aos de 1995 em 2016. Recentemente em 2022, houve relatos de alunos ilhados e muitos veículos foram destruídos por árvores que tombaram em função dos ventos tempestuosos.
Afinal, por que sobre o solo há tantas consequências daquilo que está sob os céus? As principais causas dessas chuvas, acidentes, inundações, ventanias, enchentes e desmedidos fluxos de água pelas vias compõem desde construções irregulares, planejamento público ausente, reduzido espaço verde de escoamento (i.d.: terreno de várzea) e o já conhecido descarte pouco consciente de lixo.
Buscando, então, averiguar a respeito do planejamento dos sistemas de escoamento das águas de chuva na região de Barão Geraldo, a Morando em Barão (MB) entrou em contato no dia oito de abril de 2022 com a Secretaria Municipal de Infra-Estrutura de Campinas (protocolo n.0286616). A referida Secretaria constatou que os sistemas de escoamento da região estão funcionais, não havendo falhas ou obstruções aparentes, embora nos tenha informado desconhecer sobre algum documento público mapeando os pontos específicos ou os trajetos do escoamento pluvial.
Várzeas e Pontos de Inundação, 2006.<https://saude.campinas.sp.gov.br/seplan/publicacoes/planodiretor2006/mapas/mapa20.jpg >acessado em 11/06/2022.
Por outro lado, embora não se tenha conseguido acessar os dados sobre as redes de escoamento das chuvas, foi encontrado em um dos acervos digitais da Prefeitura de Campinas o mapa “Várzeas e Pontos de Inundação” de 2006. De modo que as regiões de várzea relacionadas aos alagamentos são outro critério muito importante na análise de casos de chuvas fortes.
Conforme se pode notar acima, a região de Barão Geraldo – nas proximidades da Unicamp – consta apenas com um “ponto de crítico” de inundações. Porém, o distrito é ladeado por finos terrenos de várzea (em amarelo) – excetuando-se uma porção da zona de Ribeirão Anhumas –, os quais circundam uma concentrada zona urbanizada (em vermelho róseo). Essa configuração claramente dificulta, assim, o escoamento natural.
Mapa topográfico de Barão Geraldo. <https://pt-br.topographic-map.com/maps/ddg9/Bar%C3%A3o-Geraldo/> Acessado em 11 de Junho de 2022.
Em se tratando de locais nos quais se acumulam as chuvas, por meio desse fragmento de mapa topográfico, pode-se perceber que as partes mais seguras estão em verde, amarelo e vermelho, devido a uma altitude considerável. Já os poucos quadrantes em branco, por outro lado, não são recomendados em função da elevada altitude que pode atrair possivelmente descargas elétricas. Os tons em azul escuro, no entanto, são as zonas que se deve evitar prontamente por conta de serem as regiões “mais baixas” e, assim, facilmente inundáveis.
Algumas das principais ruas nas proximidades da Unicamp que se sugere ignorar em momentos de intensa pluviosidade são, desse modo: Rua Dr. Plínio do Amaral, Rua Francisco H. Zuppi, Avenida Érico Veríssimo, Avenida Oscar Pedroso Horta, Estrada da Rodhia. Alerta-se, entretanto, que os demais acessos não são isentos de fluxo contínuo e volumoso de águas, logo, é necessário precaução.
Um exemplo disso ocorreu em 2016, quando o G1 Globo registrou as ocorrências de alagamentos na Unicamp com um dos estacionamentos do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem) tendo se tornado uma lagoa, e em Barão com informações de acidentes e ocorrências na Rua Catharina S. Vicentin e na já mencionada Estrada da Rhodia.
Tempestade, temporal ou apenas uma forte chuva de verão? Qual o nome do que assola Barão Geraldo nos meses iniciais do ano? Para entender esse misterioso fenômeno meteorológico é necessário brevemente esclarecer os termos: microexplosão e tornado.
Uma microexplosão é uma “onda” de vento que, tendo partida da base de uma nuvem, arrasta seus obstáculos sobre solo para uma única direção, gerando uma “assinatura” de apenas um sentido, isto é, com árvores tombadas somente de um lado. Já o tornado, por sua vez, não tem uma “assinatura” uniforme, pois sua “onda” de vento desce sobre o solo em espiral.
Tendo essa explicação em consideração, a precisa determinação do fenômeno ainda é dúbia. Aparentemente nem mesmo os fortes temporais e vendavais foram capazes de promover o consenso na comunidade acadêmica sobre esses referidos eventos. Enquanto uma geógrafa do Instituto de Geociências da Unicamp afirmou que houve em 2016 tornados e microexplosões simultâneas, a diretora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp (Cepagri) se opôs a essa proposta alegando apenas o episódio de microexplosões.
Veículo de T. Thomé em janeiro de 2022. Foto enviada no grupo privado da universidade
Mesmo que os especialistas não entrem em consenso teórico sobre o acontecimento imperativo, pessoas podem acabar se afogando, alunos que não se precaver podem ser arrastados pelas águas, veículos ainda são destruídos; e as instalações acadêmicas, prejudicadas.
Portanto, além de reiterar a atenção que se deve ter sobre a fiscalização pública a respeito de enchentes, medidas de contenção e escoamento das águas, preservação das áreas de várzea e descarte adequado de lixo. A MB, procurando abrandar os eventos de perigo, separou algumas dicas sobre como agir nas situações de fortes chuvas em Barão Geraldo.
Dicas sobre o que não fazer:
Não esteja próximo a veículos;
Não procure abrigo sob árvores;
Não permaneça próximo a janelas;
Não procure poupar objetos pessoais;
Não fique próximo a torres de sinal ou postes;
Não se mantenha dentro de veículos próximo a árvores;
Não permaneça próximo aos aparelhos condutores de energia;
Não se mantenha dentro de veículos em áreas de baixa elevação;
Não mantenha contato com a água nem se essa estiver em movimento ou parada;
Se estiver em casa, apague o maior número de lâmpadas e desligue todos os equipamentos elétricos das tomadas;
Dicas sobre o que fazer:
Procure abrigo imediatamente;
Esteja sempre em grupos de três pessoas ou mais;
Permaneça calmo, na medida do possível, e atento;
Atenção às placas de “cuidado, área sujeita a inundação”;
Procure abrigo em prédios localizados em altitudes consideráveis;
Se estiver dentro de veículo que pode ser arrastado pelas águas, abandone-o e procure abrigo;
Caso haja alguma emergência, saiba onde está localizado o posto policial, de saúde ou de bombeiros mais próximo;
Caso o veículo não corra risco de ser levado pelas águas e estiver diante de uma tempestade de raios, permaneça no veículo;
