Um universo paralelo em Barão Geraldo: Vila São João
Barão Geraldo já é um distrito muito diferente do resto da cidade de Campinas, mas você conhece a Vila São João?
Para quem vai até Barão Geraldo, muitas vezes acha que já estamos em outra cidade, devido às diferenças vistas nas ruas, como tipos diferentes de casas, praças, mais arborização e pessoas andando frequentemente de bicicleta, por exemplo.
Por outro lado, nas últimas décadas, há um fluxo mais intenso de carros em Barão, pois mais empresas e laboratórios estão se concentrando ali e nos seus arredores, como a Ci&T e o laboratório Síncrotron, além dos pólos mais antigos como CPqD, Unicamp e Puccamp.
Mesmo assim, há um lugar especial em Barão Geraldo, muito próximo ao centro e à Unicamp, que consegue manter até hoje seu ar bucólico, como se estivéssemos praticamente em uma zona rural: o bairro Vila São João.
Vamos conhecer, a seguir, um pouco mais sobre sua história e como está nos dias atuais.
Um pouco sobre a história da Vila São João
O espaço, onde atualmente se encontra a Vila, era uma grande área caracterizada como zona rural e o local pertencia a Jair Tibiriçá Passos.
A Vila em si foi criada, inicialmente, em 1954. No espaço, foi feito um loteamento e os imóveis que ali se encontravam foram alugados para estudantes. Depois da sua morte, as filhas passaram a tomar conta do lugar, especialmente a famosa Dona Lu.
Maria Luiza Pedreira Passos Guedes, mais conhecida como Dona Lu, foi a filha mais ativa do sr. Jair Passos, em termos de cuidar e planejar ações para que toda aquela área fosse constantemente preservada. Dona Lu era professora e passou a maior parte de sua vida construindo outros espaços e cantos encantadores na Vila.
Em documentário, idealizado por Leandro Souza, Dona Lu conta que sempre teve uma ligação muito forte com o local, pois, ali, crescera com sua família - era o antigo sítio de seu pai. Muito dali lhe remete à infância, aos dias que ia ao circo ou que andava de “trenzinho”. Também, recorda que gostava de ver o pôr do sol, considerava um momento mágico.
Com essas inspirações e memórias, após a morte do pai, junto das irmãs, começou a realizar diversas intervenções, no sentido de deixar uma Vila mais acolhedora e, com isso, também, preservar o espaço.
Um pouco sobre a construção da Vila São João
Dona Lu passou a vida construindo a Vila São João. Ela diz que o contato com a terra é algo que sempre a motivou e inspirou, a prática manual em si. Com isso, uma das características principais é a manutenção das ruas de terra. Isto foi algo que causou uma frequente discussão entre órgãos da prefeitura e alguns outros moradores, mas é uma das principais marcas da Vila que Dona Lu insistiu para que fosse preservada.
Além disso, outros cantos e materiais foram idealizados por ela, como a praça, bancos, portais e plantio de árvores.
A praça, em um primeiro momento, foi uma tentativa de revitalizar a área e proteger contra os lixos que frequentemente eram jogados ali. E, com o passar do tempo, foi se desenvolvendo cada vez mais. Foi criado um lugar de lazer, com bancos de madeira, para contemplação. Há uma espécie de portal, com a parte superior feita de vitrais coloridos, localizado na mesma angulação do sol poente.
Uma observação interessante é que, muitos dos bancos, vitrais, esculturas, entre outros mobiliários, foram feitos pela própria Dona Lu, através de materiais que ela própria coletava. A madeira dos bancos, por exemplo, ela recolhia enquanto andava pelos arredores da Vila, madeiras que estavam no chão, forquilhas, etc. A pretensão sempre era utilizar materiais que fossem harmoniosos com a natureza.
Também, ela priorizava pelo caráter estético dos materiais e algumas casas, que ainda têm na Vila, foram construídas por meio de materiais de demolição - que considerava como bens duráveis. As casas dali têm um caráter bastante peculiar, de fato, há bastante mistura de tipos de materiais que costumam ser muito harmônicos com as ruas de terra e as árvores.
Além disso, Dona Lu também começou a plantar muitas árvores, algumas cresceram bastante em pouco tempo, conforme relata.
Durante a construção, ela contou com a ajuda de algumas pessoas, como o seu Coco, por exemplo. Diz que ele mesmo se ofereceu para trabalhar e que ajudou muito no desenvolvimento da Vila.
Enquanto eram realizadas essas construções, muitas pessoas, que passavam por ali, pensavam que era uma idealização de alguma empresa privada, provavelmente devido ao fato de que áreas de lazer, arborização e espaços públicos revitalizados não costumam ser frequentes na cidade, muito menos por iniciativa municipal, por exemplo.
Outra peculiaridade que Dona Lu notou, durante a construção, é que durante a construção, ela colocou um caderno para que as pessoas que passassem por lá escrevessem sugestões, como, por exemplo, o que sentiam falta em Barão Geraldo e poderia ser construído lá. Acabou percebendo um número extenso de depoimentos, com os conteúdos mais diversos, o que a ajudou mais ainda em sua inspiração.
A Vila São João atualmente
A Vila São João permanece, até os dias de hoje, com esse ar bucólico, de cidade pequena, cheia de árvores e de suas casas bonitas, com suas ruas de terra. Muitas vezes, pode remeter à imagem de uma pequena vila praiana de pescadores.
Infelizmente, há cerca de dez anos, Dona Lu nos deixou, mas a sua história inspiradora, construída neste plano, ficou marcada pelas ruas da Vila São João. Após seu falecimento, suas irmãs e outro morador da Vila desde 1998, chamado Luiz Fernando Pereira, passaram a cuidar do bairro.
É um local realmente acolhedor, contando com a praça e outros cantinhos bonitos para contemplação, em meio a muitas árvores e pássaros. O ar também é mais puro do que do restante de Barão, as árvores cumprem seu papel protetor. Para quem quer morar em um ambiente mais tranquilo, mas que ainda esteja próximo ao centro de Barão e à Unicamp, é um lugar ideal!
Caso tenha mais curiosidades sobre outros bairros de Barão Geraldo e de Campinas, outras formas de morar ou, ainda, sobre o modo de vida em Barão Geraldo de uma forma geral, confira no nosso site outros artigos!
Documentários:
