Campinas, com quase dois séculos e meio até a data deste artigo, tem sua história com o conhecimento científico aproximadamente um século após sua fundação, mais especificamente no ano de 1887 com a criação do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A pequena cidade produtora de café e insumos agrícolas, gozou efetivamente desse “precoce” investimento na ciência durante todo o século XX, período no qual repetiu a receita e incentivou ainda mais a criação de instituições de ensino especializado.
A região na qual sucedeu a instalação dos alicerces campineiros do positivismo científico foi, não menos que, o distrito de Barão Geraldo.
Barão Geraldo ou apenas “Barão” para os íntimos tem suficiente importância ao Brasil e ao mundo nos dias atuais. Tal relevância foi e continuará sendo fruto do desempenho e investimento ininterrupto em: indústrias de alta tecnologia (HP, IBM, Lucent, Motorola, Siemens), organizações voltadas à saúde (Hospital de Clínicas da Unicamp, Centro Infantil Boldrini, Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação Craniofacial) e instituições de ensino conceituadas mundialmente (Universidade Estadual de Campinas, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Facamp).
Neste artigo conheceremos um pouco sobre o amplo tecnopolo localizado em Barão Geraldo, também já nomeado generosamente de “a Eldorado da tecnologia” e “berço das startups brasileiras”.
Saindo da fonte campineira de conhecimento, Barão Geraldo, há desde o presidente da Elektro – empresa de distribuição de energia – avaliado com uma das melhores gestões de sua história, Marcio Fernandes; até um dos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo, sua excelência Francisco Rossi. Esse é um fragmento do quadro de expoentes da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas que se evidencia nacional e internacionalmente.
Foi discípulo na PUC-Campinas, e consequentemente no tecnopolo de Barão, Cyro Diehl, presidente da Oracle Brasil até 2016. Após trabalhar por muitos anos sob a bandeira da empresa norte-americana, Diehl foi delegado à distribuição dessa para toda a América Latina, com especial dedicação ao Brasil e à região de Campinas, onde lutou pela instalação do primeiro escritório Oracle quando ingressou na instituição em 1997.
No ramo da saúde e do bem-estar a nível internacional, por outro lado, pode-se citar os trabalhos sobre tecidos biológicos desenvolvidos pelo casal Rogério Moraes e Cristiane Squarize. Nos Estados Unidos, esses pesquisadores precursores da biologia epitelial são docentes na Universidade de Michigan (University of Michigan, UM) e fundadores do seu primeiro e único Laboratório de Biologia Epitelial (Michigan’s Epithelial Biology Laboratory) ou apenas o Squarize Lab.
Também estabelecida no “vale do silício brasileiro”, apenas a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é responsável por 15% de toda a pesquisa científica e 10% dos cursos de pós-graduação de todo território nacional, segundo o site da rede internacional Global Labour University (GLU).
Um dos frutos mais notáveis do eixo tecnológico que está acomodado em Barão Geraldo foi a fibra óptica brasileira. Em vez de prosseguir com a importação do material, por meio dos investimentos governamentais provenientes da Telebrás, a primeira fibra óptica genuinamente nacional foi alçada com dois metros de extensão em 1977, partindo de uma torre instalada no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW ou tradicionalmente Instituto de Física da Unicamp).
A região de Barão por meio da Unicamp, contudo, não só é responsável pelas novas formas de produção de materiais ou pelo desenvolvimento de técnicas mais eficientes à extração de petróleo, como é o caso dos estudos sobre modelos matemáticos de Eduardo Salmazo. Contemporaneamente, o berço das startups brasileiras que dominam a América se tornou Barão Geraldo pelas mãos do baiano e “unicamper” Fabricio Bloisi, fundador e até então CEO da companhia Movile, pioneira em logística digital no Brasil. Cumpre mencionar que a Movile tem como suas subsidiárias: iFood, Rapiddo, Movile International Inc.
Fundada em 1999 por iniciativa de professores e economistas, a Faculdade de Campinas (FACAMP) é uma instituição universitária que reúne diversos cursos como Administração, Direito e engenharias com seus respectivos laboratórios tecnológicos localizados em Barão Geraldo.
Embora seja a universidade mais recente do tecnopolo, a Facamp tem se demonstrado retentora de capitais tecnológicos tão potentes quanto àqueles das suas vizinhas.
Uma de suas notórias contribuições adveio dos criadores do Rodoclube, Matheus Chiquito e Rodrigo Schnor. O Rodoclube – startup do tecnoplo campineiro – tem a função de promover uma plataforma facilitadora ao trabalho de profissionais da entrega e do transporte como os caminhoneiros, assim, gerenciando ecossistemas viários, de carga e de comunicação.
Não apenas a concentração de instituições de ensino e centros de saúde que conformam a esfera tecno-científica de Barão Geraldo. Em função dessas presenças, há a constante disputa pela instalação formal e territorial de pessoas jurídicas nacionais e multinacionais. Essas entidades estão dispostas a usufruir de e financiar ao capital técnico gerado pelas diversas universidades em Barão.
O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) fundado pelo governo federal em 1970, mas tendo se tornado independente em 1998 deixando a folha da União, reside em Campinas por preconizar o fácil acesso às pesquisas e à vastidão de profissionais especializados. O foco dessa empresa em tecnologias de informação e comunicações e sua vinculação ao tecnopolo de Barão faz com que a instituição seja um dos principais nomes de seu segmento a nível internacional.
Outras instituições privadas que sediam o parque tecnológico de Barão Geraldo que podem ser citadas são: Taggen, Agricef e Acen Semiconductor. Provendo inovações às necessidades dos grandes e pequenos produtores rurais, a Agricef é no segmento agro uma empresa que se destaca por utilizar tecnologias de última geração. No campo de aparelhos de saúde, segurança digital e soluções multimídia, a Acen Semiconductor é uma companhia de semicondutores que está à frente em sistemas biométricos e diagnósticos. A Taggen, por outro lado, sendo intrinsecamente voltada para programas digitais, é especializada em componentes de software, projetos e soluções tecnológicas que usam de radiofrequência.
Conheça o Parque Científico e Teconológico da Unicamp: https://www.youtube.com/watch?v=JKyislocgTw
Portanto, o distrito de Barão Geraldo realmente pode ser considerado um dos principais lares da tecnologia brasileira. Além de ser a origem de ideias revolucionárias (aplicativos, softwares, modelos de gestão etc.), reúne instituições de segmentos sociais diversos que, quando combinadas, promovem ao mundo ainda mais desenvolvimento tecno-científico sem se desvincularem da qualidade de vida. A importância da região não é fato oriundo de apenas uma instituição pública ou privada, mas sim da integração, compartilhamento e comparticipação entre todas as entidades acolhidas em um só lugar: Barão Geraldo.
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