A vida depois da faculdade pela ótica de um engenheiro mecânico.
A resposta curta para essa pergunta é: sim. Estudar na Unicamp definitivamente valeu a pena e as oportunidades que tive lá dificilmente teria em outras universidades. Entretanto, vale ressaltar que a minha formação não me preparou totalmente para o mercado de trabalho e estou seguindo uma carreira bem diferente da formação técnica.
O ensino de engenharia mecânica na Unicamp me mostrou ser completo e exigente. Professores costumavam cobrar pesado as definições das teorias, provas sempre levavam mais tempo que o programado e as bibliografias complementares mostravam-se muitas vezes obrigatórias. A qualidade do aprendizado se comprovou quando fiz um intercâmbio para a Coreia do Sul e não tive dificuldades em acompanhar as aulas. Minhas notas não eram as mais altas da turma, mas em nenhum momento senti falta de bagagem teórica. Ainda, o suporte para iniciar pesquisas acadêmicas e aprofundar em trabalhos práticos era sempre uma possibilidade. Muitos dos meus amigos que engajaram com pesquisas e iniciações científicas estão hoje conquistando bons resultados em seus laboratórios.
O ambiente multicultural da universidade com certeza é seu ponto mais forte. Com facilidade era possível encontrar pessoas dos mais diversos cursos e fazer novas amizades. A minha rede de amigos formada durante meus anos de graduação em boa parte se mantém até hoje. Os diversos eventos, festas e comemorações também se mostraram boas oportunidades para conhecer gente diferente. As equipes extracurriculares, muito famosas nas engenharias, são excelentes opções para quem quer aprender na prática os conceitos ensinados em aulas e interagir com pessoas de outros cursos.
Acredito que minha maior crítica para a formação foi a falta de visão e preparo do mercado de trabalho. Durante os 5 anos de estudos, a mensagem que é sempre passada é “Vocês serão os futuros engenheiros que irão projetar carros, navios, satélites, etc.” , mas a verdade é muito diferente. A maior parte dos alunos acaba se interessando por grande bancos e consultorias, seja pelo alto retorno financeiro logo em início de carreira ou seja pela alta demanda destas companhias em buscar talentos com alta capacidade analítica. Uma parte da turma de fato segue carreira técnica em companhias mais tradicionais.
Raramente abraçam grandes projetos nos primeiros anos, mas tem a possibilidade de continuar se especializando em alguns tópicos que foram aprendidos durante a graduação. O restante da turma têm dois caminhos: seguir carreira em pesquisa ou se engajar em empresas menores em posições que não necessariamente são de engenharia (ex. analistas). Nos últimos anos, o movimento das startups cresceu muito e abraçou muitos dos formandos em engenharia. Foi o meu caso: meu primeiro trabalho foi na startup Rappi. A escolha é uma questão totalmente de perfil. Sempre me interessei mais em estar próximo de empreendedorismo e ter a oportunidade de abraçar grandes responsabilidades, ainda que sacrificando meu conforto ou altos salários. Essa escolha nem sempre é simples/fácil, mas cada vez aparenta ser mais comum.
Em resumo, a formação em engenharia mecânica na Unicamp te proporciona uma base sólida de conhecimento e uma possibilidade de desenvolver networking muito interessante. Não espere concluir a graduação e estar 100% preparado para o mercado de trabalho, nem mesmo a garantia de seguir uma carreira técnica. Ainda, se você for como eu, saiba que você será sempre um engenheiro e isso é muito valioso no mercado de trabalho, mesmo não trabalhando em engenharia. Forte abraço, meninão!
Por Rômulo Siqueira